A Todos um Bom Natal III

Entramos na recta final das festidades natalícias, com os últimos retoques na lista de presentes, decoração, embrulhos de Natal. Ou então, se são muito portugueses deixam tudo para a última, apostando forte nas meias e chocolates. Para relaxar do stress dos preparativos, eis a 3ª edição do mixtape de Natal com clássicos dos anos 80, mais Mariah Carey e velho puro rock clássico. Disfrutem e boas festas.

Playlist: Xmas III

  1. Mariah Carey: Oh Santa!
  2. Jewel: Rudolph the Red Nosed Reindeer
  3. Bryan Adams: Christmas Time
  4. Chuck Berry: Run Rudolph Run
  5. Bob Seger & The Last Heard: Sock it to Me Santa
  6. Cheap Trick: Christmas Christmas
  7. The Darkness: Christmas Time (Don’t Let the Bells End)
  8. The Pogues fet Kirsty Macoll: Fairytale of New York
  9. Queen: Thank God is Christmas
  10. The Ronettes: Sleigh Ride
  11. Otis Reading: White Christmas
  12. Jewel: Winter Wonderland

A Todos Um Bom Natal II

Chega a época natalícia e a banda sonora com músicas familiares. Porque 2020 foi um ano atípico e esquizofrénico, a escolhida playlist natalícia reflecte isso mesmo. Canções alternativas, mas melancólicas, estranhas e possivelmente afastadas da época natalícia, ainda que com as referências que conhecemos. Seja a banda The Knife focar-se nas renas do Pai Natal, ou o malogrado Chris Cornell a cantar (e bem) Avé Maria num tom rock, a melancolia do mês de Dezembro com os Linkin Park e River de Joni Mitchell. Porém não esquecendo a alegria explosiva e nostálgica do Coro de Santo Amaro de Oeiras e o duo dos Anjos e Susana. Sem dúvida uma playlist rock n’ roll, ou não estivem presentes Bruce Springsteen e a sua E Street Band e Pearl Jam com a sua rendição do clássico Jingle Bells. Feliz Natal e Rock ON!

Playlist Xmas II

  1. The Knife: Reindeer
  2. Chris Cornell: Avé Maria
  3. Joni Mitchell: River
  4. Linkin Park: My December
  5. Lisa Hannigan: Silent Night
  6. John Denver & Muppets: We Wish You a Merry Christmas
  7. Bruce Springsteen: Santa Claus is Coming to Town
  8. Coro Santo Amoro de Oeiras: A Todos um Bom Natal
  9. Anjos & Susana: Nesta Noite Branca
  10. Pearl Jam: Jingle Bells

Recordar River Phoenix

O mais assustador Dia das Bruxas foi em 1993, de tal modo traumatizante que a sua memória perdura ainda hoje cada vez que o calendário marca o dia 31 de Outubro. Numa solarenga manhã de Domingo ouvi num bloco noticiário: “Morreu o actor com o nome mais hippie de Hollywood”. A frase despertou-me a curiosidade, mas ouvir o nome River Phoenix despolotou uma paleta de sentimentos que não contava viver nos meus tenros 16 anos de idade.

A minha primeira reacção foi não acreditar e pensar que fosse uma brincadeira de Halloween de muito mau gosto que espelha a fase da negação, seguida pela ira ao saber a causa da morte: “Paragem cardíaca devido a ingestão de um cocktail de estupefacientes”. Como é que alguém tão etéreo, em contacto com a natureza, vegetariano convicto pôde ter sido tão estúpido. Naquele dia a mística que o rodeava caiu por terra, a pessoa que me despertou para a causa ambiental, para o vegetarianismo, que me deu a conhecer a causa de defesa dos animais, era humano, como todos nós e cometia erros.

No filme The Cat’s Meow de Peter Bogdanovich, a personagem de Joanna Lumley, Elinor Glyn, descreve Hollywood como uma criatura viva e o seu efeito naqueles que querem conquistá-la. Lembro-me sempre de River cada vez que oiço estas palavras: “A maldição da Califórnia é como um feiticeiro cruel, capaz de renegar a verdadeira personalidade naquele que é enfeitiçado, forçando-o. a esquecer do sítio de onde provêm, o propósito da sua viagem e os princípios que lhe são queridos”.

Catedrais de Cinema

Aproveitando a reposição do filme de Giuseppe Tornatore, o belíssimo  «Nuovo Cinema Paradiso« que comemora o seu 30º aniversário, o Mixtape puxa os galões da nostalgia cinematográfica, sob forma fotográfica. Passo a explicar.

Em 2002, o gosto pelo Cinema, foi o mote para fotografar as salas de cinema que, não só ajudaram a moldar o meu amor pelo cinema, como representam recintos onde se respira História. Na última década, faustosas salas como o São Jorge, Tivoli ou Condes fecharam as portas e foram substituídas, nos hábitos dos cinéfilos, por (odiosos) complexos multiplexes, mas não nos seus corações. Algumas dessas salas protagonizaram um condigno comeback para mostrar que a 7ª arte é devidamente apreciada nas catedrais que a respeitam e perpetuam o seu legado.

Das salas de cinema protagonistas deste slideshow: Cinemateca Portuguesa, Cinema São Jorge, Tivoli e Sala Foz (Cinemateca Júnior), apenas o Tivoli suspendeu a sua exibição cinematográfica, embora perdure como sala de teatro As restantes passam filmes a título comercial (a Cinemateca) e o São Jorge filmes em circuito de festival

Até podia ser um pretexto para compilar o top: 5 razões porque detesto multiplexes, mas penso que o meu tributo fotográfico às belíssimas salas de cinema de outrora – aquelas que ainda permanecem de portas abertas, é prova irrefutável da minha apaixonada dedicação a esta salas. Também a letra da música que acompanha o slideshow diz tudo sem que precise acrescentar mais nada. Apenas isto, não existem downloads gratuitos, dvds, televisão, canais temáticos por cabo que me retirem a emoção de assistir a um filme numa sala de cinema.

Duas salas de cinema contribuíram para moldar a minha cinefilia na infância e que foram os meus Cinemas Paradiso: O cinema Nina e sala da Sociedade Recreativa da Amora S.F.O.A. A sala Nina , a 400 metros da minha casa foi, indiscutivelmente, aquela que mais relevância teve por ser um capítulo importante da minha infância /adolescência. A notícia do seu encerramento deixou tristeza,  (mais um cinema local que encerra as portas para dar lugar aos odiosos multiplexes na periferia das localidades). O que era uma referência física passou a existir apenas como uma recordação do meu imaginário.

Não consigo precisar com factualidade o ano de abertura do cinema mas lembro-me de cada momento que ali passei. Ao longo de mais de duas décadas a sala de cinema, parte integrante do mini centro comercial com reputação duvidosa foi um ponto de referência, refúgio, escape, ponto de encontro e pausa para apreciar os deliciosos croissants com doce de ovos no intervalo de cada sessão.

Primeiro foram as manhãs infantis. Às 11h, lá estava para recordar os velhos (para mim, novos) clássicos da Disney – na altura dobrados em brasileiro. No início assistia aos filmes com a minha mãe, algum tempo depois, implorava para ela me deixar ir sozinha – só mesmo os miúdos têm pachorra para ir ao cinema às 11h da manhã. Seguiram-se as matinés com os amigos, a transição entre desenhos animados e imagem real.

Não tenho qualquer  registo fotográfico da sala de cinema Nina (inaugurada como Cinema Lord), apenas a colecção de canhotos dos bilhetes (com a devida classificação crítica em estrelas) mas em visita à S.F.O.A deparei-me com a possibilidade de fotografar a sala de projecção, presa num tempo onde o filme em película reinava. Ali, naquela sala, conservam-se as memórias de um tempo áureo da projecção cinematográfica e adorei fotografar cada uma delas.

 

 

 

 

Televisão Musicada

O dia da Televisão comemora-se  dia  21 de Novembro e para celebrar, nada melhor que uma colectânea audiovisual dos  genéricos de séries de TV favoritos. Sigam-me e relembrem os tempos em um simples acorde que saía da televisão vos chamava para o sofá para assistir ao vosso programa favorito.

Instaurado pelas Nações Unidas em 1996 com o objectivo reforçar o intercâmbio cultural e incentivar as trocas de programas de televisão sobre questões como a paz, segurança, desenvolvimento social e económico,. Convenhamos que é mais divertido compilar os genéricos de TV do meu imaginário. Honrando mais ou menos o verdadeiro objectivo por detrás desta efeméride, não se pode negar o papel importante da tv nas nossas vidas (ainda que o computador esteja lentamente a ocupar o seu lugar) mais como entretenimento do que foco de cultura.

Algumas canções, até hoje estão marcadas na memória ao ponto de me lembrar de um gato que mia no final de Hill Street Blues ou um cão de ladra depois da frase «Sit Ubu, sit. Good dog.Woof.» Esse é o poder da TV. Seguem os dez genéricos (+1)que mais me marcaram, em ordem cronológica.

Family Ties
1982-1989
Johnny Mathis & Denise Williams: «Without Us»

Esta canção faz-me sempre lembrar a minha infância em que assistia religiosamente, aos Domingos, a série «Family Ties» com a minha amiga Guida. Quando ela visitava a madrinha, a minha vizinha, o horário das 19h estava sempre reservado para esse fim, seguindo de conversa sobre o quão fofo era Michael J. Fox no papel de Alex P. Keaton.

Cheers
1982-1993
Gary Portnoy: «Everybody Knows Your Name»

MacGyver
1985-1992
Randy Edelman compôs o tema musical

A adolescência nas tardes de Domingo, às 19h em ponto, hora sagrada para assistir às aventuras de «Mac Gyver». Não interessava onde estava ou quem visitava, assim que começasse o Mac Gyver , já ninguém me arrastava fora do sofá (a não ser no intervalo, nessa altura podíamos seguir rapidamente para casa antes que começasse a 2ª parte). Normalmente a minha mãe alinhava e acabava por ficar até ao intervalo, ela também achava piada ao intrépido aventureiro.

Twin Peaks
1990-1991
Julee Cruise: «Falling»

Os serões nocturnos, passados entre o fascínio e o medo com«Twin Peaks. A etérea voz de Julee Cruise era o momento de calmia na montanha russa de emoções que iam do encanto dos rapazes (belíssimos) da série, ao terror puro do vislumbramento de Bob.

The Simpsons
1989- presente
Danny Elfman compôs o tema

Eis um genérico fora do comum na medida em que cada episódio tinham um segmento diferente. No início, Bart Simpson, escreve algo diferente no quadro da escola e, no final, a família Simpson corre para o sofá com um resultado diferente em casa episódio. Pautado pelo génio musical de Danny Elfman, este era um genérico que se mostrava imperativo ver.

Baywatch
1991-2001
Jimi Jamison: «I’m Always Here»

Confesso que este tema é brejeiro, a fazer companhia ao genérico que mais parece um anúncio de bronzeadores, mas adoro este tema. Fica mesmo no ouvido. A série passava quase sempre na temporada de Verão e, nessas alturas eu estava sempre em casa a gozar férias no sofá, por isso este era o meu tema de abertura de Verão em casa.

Mad About You
1992-1999
Andrew Gold: «Final Frontier»

A minha série favorita, passava na tv a horas de turno da meia noite (muitas vezes 2 da manhã). Os anos 90, marcam o auge da reality tv e o tempo nobre das melhores séries de tv eram relegadas para as madrugadas (e ainda assim é hoje). Assim que oiço os primeiros acordes, o meu coração alegra-se com a perspectiva de assistir à rotina deste casal nova iorquino, cuja relação serve de modelo para a minha relação sonho. Ainda procuro o meu Paul e ainda sem este genérico de cor e volta e meia canto o dito pelos corredores de edifícios ou elevadores.

X-Files
1993-2002
Mark Snow compôs o tema

Na segunda metade dos anos 90, os genéricos de tv assistiram a uma mudança, deixaram de ser cantados e eram maioritariamente instrumentais. Essa particularidade não impediu que os temas musicais ficassem marcados na memória para todo o sempre. Tal como o genérico de Twilight Zone, o de X-Files é trauteado quando mencionamos algo do foro sobrenatural ou fantástico.

E.R
1994-2009
James Newton Howard compôs o tema da série

Fã acérrima da série . Os acordes iniciais tinham o condão de me instalar no sofá em entrar «na zona». Ninguém me podia interromper quando assistia à rotina dos médicos e enfermeiras do serviço de urgência , ficava colada ao ecrã pela autenticidade dos procedimentos médicos. Na temporada em que fiz o Erasmus na Escócia, assim que soavam as 9 da noite, seguia como uma flecha para a sala comum da residência universitária e todos sabia que a essa hora estaria em frente ao televisores, fosse sentada, em pé ou encostada à parede. Certo dia, alunos vindos do edifício anexo, tomaram a tv para assistir a outro programa e eu entrei em pânico, protestando sozinha, contra 5 marmanjos. Valeu-me a solidariedade feminina de alunas que tinham tv privada no quarto.. Onde já se viu, impedir uma pessoa do seu momento televisivo semanal. BAH.

 

Lost
2004-2010
Michael Giacchino compôs o tema

Na época de ouro das séries televisivas, pouco tempo era dispensado nos genéricos. Cada segundo era aproveitado para cativar o espectador logo de início. À medida que a tv deixa de ser o suporte de visionamento das séries, dando lugar ao computador, introduz-se o termo binge watching (que pode ser traduzido como maratona televisiva) e o genérico é reduzido a uns segundo de título televisivo. Ainda assim, esses segundos funcionam como reflexo de Pavlov, deixando-nos colados ao ecrã, ainda que antes do genérico, já muito tinha acontecido na narrativa da série.

O 11º genérico segue em menção honrosa
Game of Thrones
2011- presente
Ramin Djawadi compôs o tema

Após décadas de reduzidos ou inexistentes genéricos televisivos, surge este portento instrumental, deveras cinematográfico, a anunciar uma das séries mais marcantes da actualidade. Guerra dos Tronos traz consigo, o recorde de série mais vista de todos os tempo e o regresso do genérico de longa duração, com a particularidade de conter pormenores de localização geográfica diferentes em casa temporada e também o trecho musical mais cativante de todos os tempos. Não é todos os dias que uma orquestra completa com coro, introduz um genérico televisivo. Lah lah lah lah.

Quando o Cinema faz Búu

Com o Dia das Bruxas à porta, os filmes de terror ganham honras de Estado, desaparecendo das prateleiras dos clubes de aluguer, propagando-se pela televisão, tornando-se a fonte de inspiração para fatos de máscaras feitos para assustar todo energúmeno que se atreva a recusar oferecer doces. A verdade é que, em terras cristãs, a atenção recai no pacato feriado de todos-os-santos, mas o fascínio pelo imaginário do terror ganha outra dimensão na noite de Halloween.

Vinda da geração em que o género terror emergiu do círculo de culto para o sucesso comercial – elevando personagens de terror como Michael Myers (Halloween, 1978), Jason (Sexta feira 13, 1980) Freddy Krueger (Pesadelo em Elm Street, 1984), Chucky (Boneco Assassino, 1988) a intermináveis sagas de terror que duram…duram…duram – é uma incógnita porque os filmes de terror são incapazes de suscitar o meu interesse.

Ouvia com repulsa, os relatos horripilantes destes filmes contadas pelo meu (mais velho) vizinho do rés-do-chão que respirava filmes de terror por todos os poros. Enfim, aos 10 anos de idade, não é de todo estapafúrdio uma miúda, fã de musicais, comédias românticas e filmes de aventura, abominar a imagem de um tresloucado com máscara de ski que esfaqueia virgens em série. Ainda que para fins de entretenimento…

A diversidade de filmes visionados ao longo dos anos, provou que a classificação terror assume registos e nuances mais complexos e abrangentes que uma ilustração estereotipada de ambientes sombrios, sangue, vísceras e objectos cortantes. Basicamente, tudo o que nos assusta e acciona sensações desconfortáveis no nosso consciente (e inconsciente) alimentando as enzimas do medo e susto qualifica-se. Até partilho a opinião de Stephen King ao confessar “A imagem dos palhaços assusta-me!”.

Sabem o que também me assusta?…

Eis 10 bons exemplos de cenas mais assustadoras do cinema tendo em conta que dilataram as pupilas dos meus olhos ao máximo, arrepiaram os pêlos do meu braço, elevaram o meu traseiro do assento e afundaram o meu rosto dentro da gola do camisolão.

MEDO!MEDO!

Nota: as imagens podem conter “spoilers“.

COMPANY OF WOLVES

É irónico como a incauta visão da minha primeira cena de terror, aos 10 anos , foi proporcionada pela cópia pirata do filme infantil “A História Interminável”. Quem diria que, escamoteado em tão mágico e inocente filme, estaria a cena final de “A Companhia dos Lobos”, no exacto momento que a carne de um homem se rasga para dar lugar a um lobo. A imagem apanhou-me totalmente desprevenida e foi de tal modo chocante que nem me consegui mexer, incapaz de desligar o televisor.

DEAD ZONE

Qualquer cena que mostra um objecto cortante e sangue arrepia-me a espinha. Só de olhar para esta imagem só me vem o vómito imaginando o cheiro do sangue com a água. Agora imagine-se ver a cena em que o assassino se suicida com uma tesoura aberta espetada na boca, quando se tem 12 anos de idade.

CARRIE

A maneira como é filmado e o sangue que corre neste filme é deveras tenebroso. Quem consegue fazer da primeira menstruação, um acena de horror, tem mérito, caramba. Mas a cena mais assustadora, muito mais que a cena do baile de finalistas em que a doce Carrie mata tudo e todos à frente, é a cena final que mesmo morta e enterrada, continua a assustar a pobre Amy Irving.

BIRDS

 

Hitchcock no seu melhor. Quem consegue fazer um filme de terror com doces passarinhos é, sem dúvida um mestre do suspense. Vi o filme quando era novinha e impressionou-me bastante. Hoje em dia talvez não assuste, mas – um clássico é um clássico.

ALIENS

Durante muitos anos não vi esta cena, só a mera menção a esta me deixava agoniada. Já mais velha, ainda a vejo com algum susto. Mesmo que a gosma seja de silicone, aquele alien a rasgar o estômago do pobre John Hurt impressiona.

SILENCE OF THE LAMBS

Imaginem ver a cena da foto em que o Hannibal foge da cela deixando para trás um anjo de “pele” com uma gata que vos aterra no colo vinda sabe-se lá de onde. Mandei um berro que se ouviu ao longe. O que vale é que estava em casa…

THE SHINING

Só o pio do pianinho neste filme é o suficiente para me arrepiar a pele, imagine-se tudo o resto e a voz do miúdo a berrar “REDRUM!” brrrrrrrrrrrrrrr

BLAIR WITCH PROJECT

Mesmo sabendo que era um mito “fabricado” e que cada momento foi meticulosamente criado por dois realizadores que massacraram os actores até quase os matarem de susto, eu fiquei horrorizada. Porquê? Bosque em noite cerrada, só a ideia me deixa com MUITO MEDO! A forma como é filmado atinge em cheio o genezinho do horror, pelo menos o meu. Não só porque vemos o terror espelhado no rosto dos actores, mas porque a ideia de estar num bosque escuro como breu deixa-me totalmente HORRORIZADA.

TWIN PEAKS

Na verdade o Killer Bob não povoa o formato cinema, apesar de emergir do imaginário de David Lynch, mas basta olhar para a imagem do assassino de Laura Palmer da série Twin Peaks para desencadear pesadelos vários.

SEVEN

É incrível como um filme que não tem violência explícita e figurando um muito sexy Brad Pitt, pode assustar de tal modo que durante 1 ano nem consegui olhar para a cara de Kevin Spacey (Juro!) Não só isso, como nunca mais consegui ver o filme. Na cena do crime do pecado da “Preguiça”, quando um muito decomposto homenzinho, larga uma exclamação de agonia perante o olhar incrédulo da polícia de intervenção, eu dei um pulo tão grande da cadeira que nem sei como não me deu um ataque cardíaco logo ali.

Eu, Cameo

Para aqueles que não são versados na gíria cinematográfica, explico que um cameo diz respeito a uma pequena participação surpresa de um protagonista das artes num programa de tv, filme ou vídeo musical. A linha que separa a participação cameo de uma participação especial é ténue, mas diferenciada pela inclusão do nome do artista nos créditos iniciais (de outro modo estragaria a surpresa, não é verdade?). Que comece o compêndio de cameos.

Alguns cameos são presenças sem falas, outros têm diálogo ou uma frase. Alguns representam-se a si próprios numa realidade alternativa, outros surgem como personagens que desempenharam em filmes ou séries de tv que de algum modo estão ligados ao contexto. Não há limites nem regras, é um pouco vale tudo, desde que contenha o elemento surpresa e o efeito cómico também. Alfred Hitchcock foi um dos primeiros cineastas a explorar esta coisa do cameo, surgindo amiúde nos seus filmes.
Bruce Willis
“Mad About You” (TV)

No episódio em que Jamie dá entrada no hospital para ter o bebé, Paul embarca numa odisseia para trazer a aliança da esposa que ficou esquecida no apartamento. Ao regressar depara-se com um aparatoso dispositivo de segurança devido à hospitalização de Bruce Willis depois de um acidente na filmagem do seu último filme: “Die Already”. Uma clara graçola à franchise, com a conivência de Willis (na altura a filmar “Doze Macacos”), absolutamente hilariante, satirizando o seu personagem do durão desbocado John Maclaine.

Anos mais tarde, Willis participa, como ele próprio, em “Ocean’s 13“, confrontando-se com a personagem Tessa, protagonizada por Julia Roberts, fazendo-se passar por…. Julia Roberts! Sim, é confuso, mas bem explicadinho soa assim: Julia Roberts interpreta a personagem de Tessa que, levando a cabo, um esquema, faz-se passar pela actriz Julia Roberts.

Pearl Jam
“Singles”

A carta de Amor de Cameron Crowe à cidade de Seattle resulta numa extraordinária banda sonora que, não só reflecte a década de noventa, como inclui participações dos músicos que definiram a cena musical de Seattle. A mais curiosa, os três elementos dos Pearl Jam, aqui como companheiros da banda de Cliff (Matt Dillon), os Citizien Dick. Outros cameos incluem, o próprio realizador, Chris Cornell dos Soundgarden e Tim Burton.

Bruce Springsteen
“High Fidelity”

Quando Rob Gordon (Cusack) deambula sobre a possibilidade de falar com todas as suas ex-namoradas para perceber o que falha nas suas relações, remete para uma canção de Bruce Springsteen. Qual não é o nosso espanto quando o Boss, ele próprio, improvisa pérolas de sabedoria dedilhando a sua guitarra.

Alice Cooper
“Wayne’s World”

Quando se fala em Alice Cooper, imaginamos algo decadente, macabro, obscuro e até sanguinário. Quando Wayne e Garth, de acreditação Livre Acesso em riste, entram no camarim de Cooper, não estão preparados para a presença serena e algo didáctica de tão visualmente assustador performer. E nós também não, daí a piada. A realizadora Penelope Spheeris confessou que, inicialmente pensou, em Ozzy Osbourne para o papel, mas este rejeitou. O futuro ditaria que o público veria igualmente Ozzy num ângulo bem diferente daquele que estamos habituados.

Steven Spielberg, Tom Cruise, Gwyneth Paltrow, Britney Spears, Kevin Spacey, Danny DeVito
“Austin Powers – Golden Member”

A predilecção das aventuras do espião Austin Powers, está na justificação para a incrível parada de artistas que brindam os créditos iniciais do terceiro filme da saga Austin Powers. Primeiro um spoof do spoof que são as aventuras do espião de Sua Majestade preso da década errada. De seguida de um making of com direito a ver os seios de Britney Spears a disparar rajadas de munição.

Harrison Ford
“E.T – Extra – Terrestrial”

Aqui está um cameo muito bem disfarçado, são poucos os que reconhecem a figura e voz de Harrison Ford como o professor de Elliot na sequência da dissecação dos sapos. Ford aparecia noutra cena, que acabou por ser cortada, mas pode ser vista no DVD.

Cher
“Will & Grace” (TV)

Esta série teve inúmeras e frutíferas participações especiais, ou os actores protagonizavam personagens ou interpretam si mesmas. Este cameo de Cher é inesperado e não seria o único na série. Engraçado como Jack, fã número um de Cher, a ignora por completo, tomando-a por um travesti muito bem disfarçado.

Matt Damon Ben Affleck Gus Van Sant
“Jay & Silent Bob”

O filme é mau e talvez Matt Damon e Ben Affleck o soubessem mas, como o primeiro diz no filme “quem manda dever favores a amigos?!”. Este é o melhor momento do filme. A cena diz respeito à filmagem de uma suposta sequela de “Good Will Hunting”, dirigida (ou não) por Gus Van Sant.

Robert Patrick
“Wayne’s World”


Um bom exemplo de cameo, com Robert Patrick a bisar a arrepiante personagem de T1000 em Terminator – Judgment Day que ainda estava fresquinha na memória dos espectadores aquando a estreia de Wayne’s World em 1992.

Brad Pitt & Matt Damon
“Confessions of a Dangerous Mind”

O poder de influência de George Clooney, não só consegue contratar Julia Roberts por uma nota de 20 dólares, como “pesca” estes dois belos cromos, na realização do seu primeiro filme.

Michael Jackson
Men in Black

Michael Jackson, um alien a requisitar um lugar como agente MIB. Realidade ou ficção?! Apenas um cameo muito bem pensado.

Keith Richards
“Pirates of the Caribbean – At World’s End”

Quando Johnny Deep confessou ter baseado o seu personagem de Jack Sparrow no legendário guitarrista dos Rolling Stones, Keith Richards, estava longe de imaginar que ele aceitaria interpretar o seu pai no terceiro filme da saga Piratas das Caraíbas. Quanto ao espectador, foi uma surpresa já anunciada, mas talvez a surpresa maior foi saber que Richards partiu a cabeça ao cair de um coqueiro quando estava no local da filmagem. Há pessoas que mais parecem personagens de filme e Keith Richards é uma dessas pessoas.

Marshall McLuhan
“Annie Hall”

O que faz um estudioso da comunicação num filme de Woody Allen? Ajuda a provar um ponto de vista. Parafraseando Woody Allen ” Se ao menos a vida real fosse assim…”

Michael Jackson: Liberian Girl (Video clip)

O obsceno número de cameos no videoclip de um dos singles do álbum Bad, não só impede a menção a todos os artistas (cantores, actores, realizadores, produtores) nele incluídos, como me atrevo a caracterizar este clip como um enorme cameo em forma de vídeclip.

Os realizadores, volta e meia, gostam de meter uma perninha na interpretação, ou por piada ou por falta de casting. Peter Jackson é daqueles que raramente falha um cameo.

Também Martin Scorcese

Kiss Kiss Bang Bang

Pauline Kael, uma conhecida crítica de cinema, deu à sua colecção de ensaios o título de “Kiss Kiss Bang Bang”. Escreveu na introdução que havia emprestado o título a um cartaz de cinema italiano e que a frase resume o apelo básico do cinema – beijos e tiros. Por mais refutável que seja a afirmação, é inegável o fascínio que o cinema remete para o beijo cinematográfico. Se eu fosse o Alfredo de “Cinema Paraíso”, este seria o compêndio visual que deixaria a Toto.

Drew Barrymore + E.T (E.T- Extra Terrestrial)

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Um beijo é, usualmente, prelúdio de uma arrebatadora paixão mas também pode ser a elevação de um amor tão puro que não conhece barreiras. Este não foi o primeiro beijo de ecrã que vi, tinha na ideia os clássicos a preto e branco, mas a imagem da Gertie a beijar o E.T, antes deste partir, ficou para sempre tatuada na memória.

 Christian Slater + Patricia Arquette (True Romance)

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Beijos lascivos fotografados em contra luz foi, durante muito tempo, a imagem de marca de Tony Scott. Fê-lo em “The Huger”, “Top Gun” , “Revenge”, “Days of Thunder” e o filme protagonizado pelo meu actor fetiche da adolescência: Christian Slater e Patricia Arquette. True Romance é uma história de amor com o carimbo Quentin Tarantino, contudo, penso que não seria filmado com a mesma intensidade passional fosse ele o realizador. No comentário áudio de Top Gun, o mais novo irmão Scott, explica que era o “modus operanti” de filmar cenas de amor daquela altura mas, o que Tony filma; no quarto, cama, cabine telefónica, consultório médico, carro, água, sai sempre bem.

Leonardo Di Caprio + Claire Danes (Romeo + Juliet)

romeo juliet

Baz Luhrmann capta na perfeição a paixão inocente, mas avassaladora de Julieta e o do seu Romeu. Apaixonam-se através de um vidro de aquário ao som de  “Kissing you” de Desireé mas beijam-se no elevador ao som dos Garbage: “#1 Crush”. A câmara rodopia a 360 graus em câmara lenta. Imagem de marca de Baz e ele fá-lo bem, caramba!

 Ewan McGregor + Cameron Diaz (Life Less Ordinary)

A-Life-less-ordinary

Celine: What’s wrong?
Robert: What’s wrong, you crazy bitch, is I thought you were gonna shoot me! THAT’S what’s wrong!

Celine toma as rédeas do seu próprio rapto e surpreende Robert com um inesperado beijo após um assalto a uma loja de conveniência. O amor filmado por Danny Boyle nunca é banal mas visualmente perfeito.

Ralph Fiennes + Angela Basset (Strange Days)

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Lenny e Mace dispersam por entre a multidão no primeiro dia de 2000. Ela segue de carro para a esquadra, ele afastando-se, percebe que está apaixonado por ela e volta para trás. Bate no vidro, puxa-a de dentro do carro olhando profundamente nos seus olhos. Ouve-se “Fall in the Light”de Lori Carson e Graeme Revell, caem confettis. Um final feliz reminiscente com aquele dos filmes de John Hughes, quando o gajo finalmente percebe que está apaixonado pela amiga e não a cabra da outra gaja.

Vicent Perez + Isabelle Adjani (La Reigne Margot)

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Quando La Môle descobre que a mulher mascarada é a Rainha Margot “Cette qui l’aime comme se venge”. Vicent Perez parece um anjo. Devia de ser proibido os homens serem assim tão bonitos.

Val Kilmer + Joanne Whalley (Willow)

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Impregnado de pó de “corações despedaçados”, Madmartigan entra na tenda de Sorcha para resgatar a bebé Elora e acaba por declarar-lhe amor eterno. São surpreendidos e antes de escapar Madmardigan rouba um beijo à moda dos grandes clássicos de capa e espada. Tensão sexual entre guerreiros de sexos opostos – Hans Solo e Princesa Leia part II, num reino far…far away.

Matt Damon + Minnie Driver (Good Will Hunting)

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Skylar: You were hoping for a goodnight kiss.
Will: No, you know. I’ll tell ya, I was hoping for a goodnight lay, but I’d settle for a good night kiss.

Diane Lane + Michael Paré (Streets of Fire)

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Lane e Paré, belíssimos neste musical de acção (soa estranho mas é muito bom). Cody diz a Ellen:“You know, no one ever had a hold on me like you did. I would have done anything for you. A long time ago I would have thought you were worthy of it. Not anymore, babe.Sai porta fora, chove intensamente. Ela segue-o e pergunta “What did I do to you that was so wrong?! e beijam-se.

Jena Malone + Hayden Christensen (Life as a House)

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A obstinada Alyssa entra no duche de Sam para perceber se os rumores de homossexualidade dele são verdadeiros. Certo.

Alyssa Look, I thought I was helping you.
Sam: It would help me if I could kiss you.
Alyssa: No. Look I thought we were just friends.
Sam: Well, what you think you know doesn’t necessarily have much to do with reality. I mean I hope I’m not the first one to tell you this.

Zach Braff + Natalie Portman (Garden State)

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AMO esta cena. Argumentistas de Hollywood, ponham os olhos neste timing para um beijo cinematográfico com mais arrebatamento que fogo de artifício. Large grita para o fundo do precipício afogando toda inércia da sua vida, tomando o rosto de Sam nas suas mãos e beijando-a sob chuva torrencial.Lindo!
Ethan Hawke + Gwyneth Paltrow (Great Expectations)

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Visual e musicalmente perfeito, a adaptação moderna do livro de Charles Dickens com o mesmo título é o melhor filme de Alfonso Cuarón. A química entre Hawke e Paltrow extravasa o ecrã e o beijo surpresa no repuxo mostra o verdadeiro sentido de “beijo molhado”.

Josh Hartnett + – é indiferente!- (na foto) Diane Krueger (Wicker Park) /Kirsten Dunst(Virgin Suicides) / Laura Harris (The Faculty)

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Josh Hartnett poderia até beijar uma parede, o vazio ou um rinoceronte, surtiria o mesmo efeito. Sofia Copolla captou a mística libidinosa de Hartnett na perfeição, pondo-o a percorrer, em câmara lenta, um corredor de liceu ao som de “Magic Man” dos Heart. A ala feminina suspira e nem sequer um beijo é trocado. É tudo, altura, olhar, postura, mãos. Efeito ‘crescendo’ quando inclui beijo 

Keanu Reeves + – é indiferente!- (na foto)Lori Petty (Point Break) / Charlize Theron (Devil’s Advocate) / Cameron Diaz (Feeling Minnesota)

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No ecrã, Keanu já beijou mulheres e homem e dá-me o mesmo tesão (desculpem, fui muito directa?!) Monica Bellucci mencionou que beijou Keanu Reeves 20 vezes numa cena de “Matrix – Reloaded” e adorou cada minuto pois “o Keanu beija muito bem”.

Richard Gere + -é indiferente!- (na foto) Debra Winger (Officer and a Gentleman) /Valerie Kaprisky (Breathless)

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Confesso que não sou fã do Richard Gere, mas que este homem sabe beijar no grande ecrã, sabe. Aprendam com o mestre. A idade passa por ele mas não o dom ósculativo que continua vivo e de boa saúde..

Michael Douglas + Kathleen Turner (Romancing the Stone)

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Michael Douglas outrora foi uma bomba sexual dentro e fora dos ecrãs. Presentemente apenas expressa o seu potencial à sra. Douglas, Catherine Zeta-Jones, à porta fechada, mas fica aqui a recordação do melhor beijo dos anos 80 com a partenaire Kathleen Turner.

Adrien Brody + Halle Berry (Cerimónia dos Óscares 2003)

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Bem sei, tecnicamente não é um beijo cinematográfico porque aconteceu em tempo real, em directo, em frente de milhões de espectadores. Quem assistiu sabe que não há beijo mais arrebatador que aquele que apanhou de surpresa Halle Berry.

Obrigado, Óscar

É já hoje a cerimónia que todo o cinéfilo convicto fica acordado para ver. A noite da Cerimónia dos Óscares, premeia os melhores do ano do Cinema, nas categorias interpretativas (e técnicas), mas aquele que sobe ao pódio para receber a estatueta dourada de nome Óscar é igualmente avaliado pelo discurso de aceitação. Alguns desses discursos de tal modo populares que atingem a imortalidade ao fazerem parte do léxico da cultura cinematográfica. Eis alguns exemplos que Cecil Worthington, figura secreta dentro da Academia, gostaria de ignorar.

Adrien Brody
Óscar Melhor Actor por “The Pianist”

Segundo o colunista Ross Moulton da revista Parade, proferir o discurso perfeito é como misturar um cocktail: “uma parte humor, duas partes sinceridade, uma pitada de lágrimas (facultativo) e agitar bem. Por outras palavras: breve e eficaz e ter o público na palma da mão”. Na cerimónia de 2003, Adrien Brody proferiu o discurso perfeito e protagonizou o momento mais inesquecível das precedentes cerimónias. Em total delírio de alegria beijou Halle Berry comme il faut, galante como só ele. Não só isso como teve uma plateia a aplaudi-lo de pé (incluindo os outros nomeados que haviam confessado estar a torcer por Brody).  Ainda interrompeu o corte da orquestra com uma firmeza humilde para proferir uma mensagem de paz, no ano que que os Estados Unidos avançavam para a guerra no Iraque. Nem todos se lembram desse último pormenor, mas lembram-se do beijo a Halle Berry.

Repercussão: Durante um ano inteiro, Brody esteve na berlinda como aquele que beija tudo e todos e vários sketches de comédia, no MTV Movie Awards e Saturday Night Live focaram isso mesmo. O actor voltou à cerimónia no ano seguinte para apresentar a categoria de Melhor Actriz e veio prevenido.

Cuba Gooding Jr.

Óscar Melhor Actor Secundário por Jerry Maguire

Cuba Gooding Jr é recordado como o mais entusiástico vencedor da estatueta dourada. Feliz, mas contido nos agradecimentos iniciais, é impulsionado pelo corte da orquestra como um boneco de mola, agradecendo à população em geral. Aqueles a quem não teve tempo de saudar pelo seu nome, gritou AGRADEÇO A TODOS, pulando esfuziante de alegria pelo palco. Os anos (e as suas escolhas) não foram carinhosas para a sua carreira, mas Cuba Jr. será sempre recordado pelo seu papel vencedor em Jerry Maguire e a frase: “Show me the money”.

Repercussão: No ano seguinte, Ben Affleck e Matt Damon agradeciam a Cuba Gooding Jr. por lhes ensinar a fazer discursos, isto porque estavam igualmente eufóricos a tentar agradecer meio mundo.

Jack Palance

Óscar Melhor Actor Secundário por “City Slickers”

Jack Palance era um actor da velha guarda e poucos colocaram em causa o merecimento do galardão máximo do cinema, tendo em conta a extensível carreira. Contudo, ninguém imaginava que Palance, septuagenário, subisse ao palco e surpreendesse com as suas capacidades físicas e um grande timing cómico.

Repercussão: Minutos após o seu discurso de agradecimento, os telefones da agência que representava o actor não pararam de tocar com propostas mirabolantes, as mais consistentes sendo de produtores que queriam Palance nos seus vídeos de exercício físico. Billy Crystal aproveitou a deixa e deu a Jack Palance um papel de destaque na abertura dos Óscares do ano seguinte

Roberto Benigni

Óscar Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Actor Principal por La Vita é Bella

Sendo italiano, com um mínimo conhecimento da língua inglesa, não se pode dizer que foi um discurso eloquente, mas foi exuberante em comicidade. Roberto Benigni saltou para cima da cadeira esbracejando a vitória com braços no ar e confessando ingenuamente (pelo segundo Óscar) que já tinha usado todo o inglês que sabia. A melhor frase da noite, para além do bonito agradecimento à sua família e mulher, foi: “I want to make love to everybody!”

Repercussão: No ano seguinte, ainda se falava na contagiante presença de Roberto Benigni que se manteve sossegado na cadeira durante a cerimónia, Billy Crystal, o apresentador desse ano não perdeu a oportunidade de lembrar o saltitante  italiano.

Sally Field
Óscar Melhor Actriz Secundária por “Places of the Heart”

O segundo Óscar para a actriz Sally Field foi o mais memorável para si, segundo as suas palavras, e igualmente o público que nunca esqueceu o ingenuamente honesto: “I can’t deny the fact that you like me, right now, you like me!”

Repercussão: Field foi gozada em vários meios de comunicação pelo desabafo, mas a própria parodiou a frase resumida (erradamente) a “You like me, you really like me” num anúncio e igualmente na sua introdução dos nomeados para Melhor Actor na cerimónia do ano seguinte, mostrando o desportivismo do seu sentido de humor. Anos mais tarde, a frase continua a figurar no imaginário televisivo e também Billy Crystal a usou numa montagem introdutória.

Nota: Em título de curiosidade, no vídeo em link, em 1m30s conseguem ver a então adolescente Angelina Jolie ao lado do pai Jon Voight.

Anfitriões dos Óscares

É já na madrugada de Domingo para segunda, 26 de Fevereiro, que os Óscares celebram a sua 89ª edição. Da primeira e privada cerimónia no salão do Roosevelt Hotel em 1929 até à transmissão televisiva, com uma audiência de milhões, sobressaem um naipe de anfitriões destacados para animar a noite mais importante do Cinema. Eis a sua herança.

BOB HOPE
1940 a 1943 1944, 1946/53/55/58/59 (co-anfitrião), 1960 a 1962, 1965 a 1968 e 1978

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O rei dos anfitriões que guarda o recorde supremo como anfitrião (um total de 19 vezes), Bob Hope é o genuíno sr. entretenimento, habituado a animar as hostes desde os seus tempos de locutor de rádio o que explica o seu a-vontade e favoritismo. Apresentou a cerimónia na passagem do preto e branco para a emissão a cores, estendendo-se por quatro décadas e pela sua contribuição ganhou um prémio honorário em 1966.

Imagem de Marca: Bob Hope era um performer nato, artista do vaudeville, da Broadway e da rádio, tinha um incrível sentido cómico e excedia no improviso.

JOHNNY CARSON
1979 a 1982 e 1984

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O sr. televisão, conhecido e amado apresentador do Tonight Show fez a sua transição para o universo de apresentação de prémios cinematográfico na década de 80. Numa época em que poucos ligavam à transmissão da cerimónia com a sua interminável duração e inusitados número musicais que se estendiam até à exaustão, Carson foi um oásis cómico e o terceiro anfitrião que mais vezes o fez num total de cinco vezes.

Imagem de Marca: nada lhe escapa e tem um timing inato de quem já está habituado a apresentar e conhece bem o seu público.

BILLY CRYSTAL
1990, 1991, 1992, 1993, 1997, 1998, 2000, 2004 e 2012

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Billy Crystal deu início à jornada anfitriã no início da década de 90, numa altura em que a Cerimónia assistia a um decréscimo de audiência. O seu desempenho como mestre de cerimónias dos Óscares foi de tal modo bem sucedido que marcou presença um total de nove vezes, estendo-se por década e meia directamente. A sua última presença como mestre de cerimónias não foi particularmente auspiciosa, talvez por ter sido uma escolha de emergência dado o azedume criado pelas declarações menos elegantes do director escolhido pela Academia para esse ano, Brett Ratner. Consequentemente o anfitrião Eddie Murphy declinou e Crystal foi trazido para salvar a Academia.Está a par de Bob Hope na excelência, secundado no número de vezes que apresentou. É sem dúvida o mais lembrado da minha geração e ganhou três prémios Emmy pela sua apresentação da Cerimónia dos Óscares.

Imagem de Marca: pot-de-porri musical dos cinco filmes nomeados e montagens introdutórias onde substitui personagens dos filmes nomeados. Uma personagem recorrente é a sua imitação de Sammy Jr.

WHOOPI GOLDBERG
1994, 1996, 1999 e 2002

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Poderia parecer uma escolha inusitada para a conservadora Academia, pelo seu conhecido stand up sem filtros ou medo de ser politicamente incorrecta, a própria brincou no seu discurso de abertura:«Com que então eu tenho o microfone em directo durante 3 horas. Nunca houve tantos executivos a suarem por uma mulher deste Heidi Fleiss», mas Whoopi foi mestre de cerimónias durante quatro cerimónias e fê-lo com distinção, em parte dado o seu calo como comediante stand up. Foi a primeira mulher anfitriã, convidada um total de 4 vezes.

Imagem de Marca: Humor acutilante e destemido, mas em duas cerimónias incarnou algumas das personagens nomeadas, sendo a mais espectacular a entrada à la Moulin Rouge no ano de 2002

STEVE MARTIN
2001, 2003 e 2010 (em parceria com Alec Baldwin)

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Steven Martin tem a herança do stand up na sua actuação o que o deixa a-vontade num palco em frente de muitos milhões, e tem a mais valia do improviso. Mostrou-o da maneira mais hilariante quando, ao ver Danny de Vitto a comer umas asas de frango no intervalo da cerimónia, correu para ele, em directo, com um pacotinho de molho.

Imagem de marca: Consegue ser sarcástico sem esforço e sem medo

CHRIS ROCK

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Chris Rock é o comediante que não tem medo de dizer o que não deve e de forma ruidosa, por isso foi uma surpresa a Academia, considerada conservadora, escolhê-lo. Numa altura em que as audiências baixavam e queriam abranger diferentes públicos, Rock fez bem o seu papel de anfitrião, tocando em temas delicados com audácia hilariante sem ser desrespeitoso. Voltou em 2016 no centro de uma forte polémica em que a Academia foi acusada de perpetuar racismo e ser afoita a diversidade racial, por não escolher candidatos negros, numa lista de nomeados predominantemente branca (ainda que com a comunidade sul americana bem representada). Chris Rock fez da polémica parte essencial do seu monólogo de abertura em segmentos com humor certeiro.

Imagem de Marca: Faz sempre um segmento em que entrevista afroamericanos à saída de salas de cinema em bairros predominantemente negros, perguntando se viram os filmes nomeados. O resultado é sempre uma surpresa engraçada e uma perspectiva diferente.

JON STEWART
2006 e 2008

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O apresentador do Daily Show bisou, com distinção, como anfitrião na cerimónia dos Óscares, depois de uma incessante procura para substituir os apresentadores de serviço, acima representados. A sua montagem introdutória brincou com essa particularidade. Interventivo na dose certa e óptimo no improviso, foi uma delícia vê-lo brincar com a peculiar atribuição do Óscar para Melhor Canção do filme Hustle & Flow «It’s Hard out there for a Pimp» em 2006: «Contagem dos Óscares: Three 6 Mafia -1 Óscar, Martin Scorsese – 0» (curiosamente, o realizador venceu no ano seguinte).

Imagem de Marca: Não tem medo da piada política, a sua capacidade de improviso e classe. Quando a vencedora pela Melhor Canção:«Falling Slowly» Marketa Irglova foi impedida de fazer o seu agradecimento devido à interrupção da orquestra, Jon Stewart fez questão de chamar a cantora de novo ao palco para o fazer.

ELLEN DEGENERES

2007, 2014

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Ninguém quis tanto ser anfitriã da cerimónia dos Óscares como a comediante, apresentadora Ellen Degeneres, ela própria menciona isso mesmo no seu discurso. Vindo de um passado de stand up na comédia numa altura em que homem davam cartas foi só quando se tornou uma popular no talk show com o seu nome que a Academia a convidou e voltou a convidar em 2014, uma das edições com maior audiência em grande parte por momentos espontâneos percorrendo a plateia, ora descaradamente entregado um guião a Martin Scorsese  ou fotografar  Clint Eastwood para a sua página pessoal.

Imagem de Marca: Ellen tem o hábito de descer até à plateia e surpreender os nomeados com momentos ensaiados para improvisar que acabam por ser tornar espontâneos e alguns de dimensão tão grande que são responsáveis por “avariar a internet”- a selfie que passou a groupie

Outrora, a função de mestre de cerimónias era um cargo quase vitalício, revelando-se impressionantes recordes de longevidade. Nos dias de hoje, com a cerimónia a perder a audiência dos mais jovens, a escolha de anfitrião revela-se mais complicada a julgar pelas ousadas escolhas. Algumas vencedoras – Hugh Jackman a que mais impressionou  , outras nem tanto – David Letterman e James Franco como co-apresentador, outras arriscadas – Seth MacFarlane, mas sempre despertando a curiosidade dos cinéfilos. Este ano, o desafio pesa nos ombros de Jimmy Kimmel . Espera-se um qualquer segmento onde Matt Damon apareça sem ser convidado já que esse é um segmento recorrente com Kimmel, resta saber se deixará a sua marca. Se resistirem ao sono durante a transmissão madrugada fora, ficam a saber.