Kiss Kiss Bang Bang

Pauline Kael, uma conhecida crítica de cinema, deu à sua colecção de ensaios o título de “Kiss Kiss Bang Bang”. Escreveu na introdução que havia emprestado o título a um cartaz de cinema italiano e que a frase resume o apelo básico do cinema – beijos e tiros. Por mais refutável que seja a afirmação, é inegável o fascínio que o cinema remete para o beijo cinematográfico. Se eu fosse o Alfredo de “Cinema Paraíso”, este seria o compêndio visual que deixaria a Toto.

Drew Barrymore + E.T (E.T- Extra Terrestrial)

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Um beijo é, usualmente, prelúdio de uma arrebatadora paixão mas também pode ser a elevação de um amor tão puro que não conhece barreiras. Este não foi o primeiro beijo de ecrã que vi, tinha na ideia os clássicos a preto e branco, mas a imagem da Gertie a beijar o E.T, antes deste partir, ficou para sempre tatuada na memória.

 Christian Slater + Patricia Arquette (True Romance)

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Beijos lascivos fotografados em contra luz foi, durante muito tempo, a imagem de marca de Tony Scott. Fê-lo em “The Huger”, “Top Gun” , “Revenge”, “Days of Thunder” e o filme protagonizado pelo meu actor fetiche da adolescência: Christian Slater e Patricia Arquette. True Romance é uma história de amor com o carimbo Quentin Tarantino, contudo, penso que não seria filmado com a mesma intensidade passional fosse ele o realizador. No comentário áudio de Top Gun, o mais novo irmão Scott, explica que era o “modus operanti” de filmar cenas de amor daquela altura mas, o que Tony filma; no quarto, cama, cabine telefónica, consultório médico, carro, água, sai sempre bem.

Leonardo Di Caprio + Claire Danes (Romeo + Juliet)

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Baz Luhrmann capta na perfeição a paixão inocente, mas avassaladora de Julieta e o do seu Romeu. Apaixonam-se através de um vidro de aquário ao som de  “Kissing you” de Desireé mas beijam-se no elevador ao som dos Garbage: “#1 Crush”. A câmara rodopia a 360 graus em câmara lenta. Imagem de marca de Baz e ele fá-lo bem, caramba!

 Ewan McGregor + Cameron Diaz (Life Less Ordinary)

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Celine: What’s wrong?
Robert: What’s wrong, you crazy bitch, is I thought you were gonna shoot me! THAT’S what’s wrong!

Celine toma as rédeas do seu próprio rapto e surpreende Robert com um inesperado beijo após um assalto a uma loja de conveniência. O amor filmado por Danny Boyle nunca é banal mas visualmente perfeito.

Ralph Fiennes + Angela Basset (Strange Days)

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Lenny e Mace dispersam por entre a multidão no primeiro dia de 2000. Ela segue de carro para a esquadra, ele afastando-se, percebe que está apaixonado por ela e volta para trás. Bate no vidro, puxa-a de dentro do carro olhando profundamente nos seus olhos. Ouve-se “Fall in the Light”de Lori Carson e Graeme Revell, caem confettis. Um final feliz reminiscente com aquele dos filmes de John Hughes, quando o gajo finalmente percebe que está apaixonado pela amiga e não a cabra da outra gaja.

Vicent Perez + Isabelle Adjani (La Reigne Margot)

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Quando La Môle descobre que a mulher mascarada é a Rainha Margot “Cette qui l’aime comme se venge”. Vicent Perez parece um anjo. Devia de ser proibido os homens serem assim tão bonitos.

Val Kilmer + Joanne Whalley (Willow)

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Impregnado de pó de “corações despedaçados”, Madmartigan entra na tenda de Sorcha para resgatar a bebé Elora e acaba por declarar-lhe amor eterno. São surpreendidos e antes de escapar Madmardigan rouba um beijo à moda dos grandes clássicos de capa e espada. Tensão sexual entre guerreiros de sexos opostos – Hans Solo e Princesa Leia part II, num reino far…far away.

Matt Damon + Minnie Driver (Good Will Hunting)

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Skylar: You were hoping for a goodnight kiss.
Will: No, you know. I’ll tell ya, I was hoping for a goodnight lay, but I’d settle for a good night kiss.

Diane Lane + Michael Paré (Streets of Fire)

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Lane e Paré, belíssimos neste musical de acção (soa estranho mas é muito bom). Cody diz a Ellen:“You know, no one ever had a hold on me like you did. I would have done anything for you. A long time ago I would have thought you were worthy of it. Not anymore, babe.Sai porta fora, chove intensamente. Ela segue-o e pergunta “What did I do to you that was so wrong?! e beijam-se.

Jena Malone + Hayden Christensen (Life as a House)

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A obstinada Alyssa entra no duche de Sam para perceber se os rumores de homossexualidade dele são verdadeiros. Certo.

Alyssa Look, I thought I was helping you.
Sam: It would help me if I could kiss you.
Alyssa: No. Look I thought we were just friends.
Sam: Well, what you think you know doesn’t necessarily have much to do with reality. I mean I hope I’m not the first one to tell you this.

Zach Braff + Natalie Portman (Garden State)

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AMO esta cena. Argumentistas de Hollywood, ponham os olhos neste timing para um beijo cinematográfico com mais arrebatamento que fogo de artifício. Large grita para o fundo do precipício afogando toda inércia da sua vida, tomando o rosto de Sam nas suas mãos e beijando-a sob chuva torrencial.Lindo!
Ethan Hawke + Gwyneth Paltrow (Great Expectations)

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Visual e musicalmente perfeito, a adaptação moderna do livro de Charles Dickens com o mesmo título é o melhor filme de Alfonso Cuarón. A química entre Hawke e Paltrow extravasa o ecrã e o beijo surpresa no repuxo mostra o verdadeiro sentido de “beijo molhado”.

Josh Hartnett + – é indiferente!- (na foto) Diane Krueger (Wicker Park) /Kirsten Dunst(Virgin Suicides) / Laura Harris (The Faculty)

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Josh Hartnett poderia até beijar uma parede, o vazio ou um rinoceronte, surtiria o mesmo efeito. Sofia Copolla captou a mística libidinosa de Hartnett na perfeição, pondo-o a percorrer, em câmara lenta, um corredor de liceu ao som de “Magic Man” dos Heart. A ala feminina suspira e nem sequer um beijo é trocado. É tudo, altura, olhar, postura, mãos. Efeito ‘crescendo’ quando inclui beijo 

Keanu Reeves + – é indiferente!- (na foto)Lori Petty (Point Break) / Charlize Theron (Devil’s Advocate) / Cameron Diaz (Feeling Minnesota)

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No ecrã, Keanu já beijou mulheres e homem e dá-me o mesmo tesão (desculpem, fui muito directa?!) Monica Bellucci mencionou que beijou Keanu Reeves 20 vezes numa cena de “Matrix – Reloaded” e adorou cada minuto pois “o Keanu beija muito bem”.

Richard Gere + -é indiferente!- (na foto) Debra Winger (Officer and a Gentleman) /Valerie Kaprisky (Breathless)

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Confesso que não sou fã do Richard Gere, mas que este homem sabe beijar no grande ecrã, sabe. Aprendam com o mestre. A idade passa por ele mas não o dom ósculativo que continua vivo e de boa saúde..

Michael Douglas + Kathleen Turner (Romancing the Stone)

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Michael Douglas outrora foi uma bomba sexual dentro e fora dos ecrãs. Presentemente apenas expressa o seu potencial à sra. Douglas, Catherine Zeta-Jones, à porta fechada, mas fica aqui a recordação do melhor beijo dos anos 80 com a partenaire Kathleen Turner.

Adrien Brody + Halle Berry (Cerimónia dos Óscares 2003)

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Bem sei, tecnicamente não é um beijo cinematográfico porque aconteceu em tempo real, em directo, em frente de milhões de espectadores. Quem assistiu sabe que não há beijo mais arrebatador que aquele que apanhou de surpresa Halle Berry.

Precipitação Romântica

Nas primeiras chuvas de Outono, lembro-me sempre de John Cusack e o seu deambular pela chuva em desencanto romântico. Seguramente é seu o recorde de actor com o maior número de cenas à chuva, como se pode comprovar pelo vídeo cortesia do site Moviephone. A predilecção do cinema por romance debaixo de precipitação vem de longe e não se estende exclusivamente aos filmes onde John Cusack entra. Porque a chuva instiga o meu nervo cinéfilo – amoroso, o Mixtape apresenta uma compilação de cenas românticas à chuva. Usufruam com um sorriso sonhador, nem que seja para esquecer, por momentos, o caótico trânsito devido à chuva.

10 Cenas de Precipitação romântica

The Notebook, , Garden State, Cinema Paradiso,  Breakfast at Tiffany’s, Spider Man, Four Weddings and a Funeral, , Streets of Fire, Match Point, Midnight in Paris, Great Expectations

Play it Again… Música no Cinema

A introdução do tema de hoje é proporcionada pela voz do  inventivo realizador Quentin Tarantino. Quem conhece o trabalho deste senhor e teve oportunidade de o ouvir em entrevistas, sabe que o homem fala pelos cotovelos, portanto já é meio caminho andado na escrita de uns quantos parágrafos.

O uso de uma canção num filme, numa particular cena ou sequência amplia a experiência cinematográfica ao máximo e garante um lugar imediato na memória. Quando todos os elementos, visual e musical, se conjugam e se acerta em cheio, o resultado será, para sempre, associar a música às imagens do filme.
Eis 15 exemplos, chegados ao meu coração, que provam o ponto de vista do sr. Tarantino.

Dooley Wilson: As Time Goes By

Filme: Casablanca

O filme que inspirou o título do mixtape de hoje, representa todos os clássicos a preto e branco e a cores que contêm canções associadas a estes. Podia mencionar o tema de Marilyn Monroe: “I Wanna Be Loved By You” em Some Like it Hot (Quanto Mais Quente Melhor), Gene Kelly em Singing in the Rain, Judy Garland: “Somewhere Over The Rainbow” em Wizard of Oz (o Feiticeiro de Oz), mas a canção “As Time Goes By”, que faz parte de um show da Broadway e é a banda sonora do amor proibido entre Rick e Ilsa é, talvez,  o mais icónico.

Aimee Mann: Wise Up

Filme: Magnolia

No booklet que acompanha a banda Sonora do filme, Paul Thomas Anderson declara: “Tal como alguém que faz uma adaptação de um livro para o grande ecrã, eu tinha o conceito de adaptar as canções de Aimee num guião”. Anderson canalizou os versos das canções de Aimee no storyline. No belíssimo tema “Wise Up”, Aimee canta sobre a desilusão e como as coisas não irão melhorar se não fizermos algo que o contrarie.  Ter cada personagem chave trauteando os versos de “Wise Up” parece inusitado, comparada com a cena da chuva de sapos, até é bastante plausível. Inusitado ou não é uma das mais inesquecíveis cenas do cinema.

Elton John: Tiny Dancer

Filme: Almost Famous (Quase Famosos)

No comentário áudio do filme, Cameron Crowe explica que a escolha deste tema prende-se com o facto de ser um canção de guilty pleasure. Ou seja, um tema que qualquer fã da linha dura do rock dos anos 70 nunca escolheria, mas que vive palpitante no seu coração. De todos os temas de Elton John, este não é o mais conhecido, mas dificilmente se dissocia da cena de reconciliação da banda e no filme que é uma carta de amor à música.

Iggy Pop: Lust for Life

Filme: Trainspotting

A batida sincopada desfilando os versos hedonistas de Iggy Pop, enquanto  Renton faz o mítico discurso “Choose Life”, escorrega que nem ginja e proporciona a sequência de abertura perfeita para o discurso, adaptado no livro de Irvine Welsh com o mesmo nome: “ Porquê escolher uma vida certinha, quando se têm heroína?!” Outros temas sobressaem desta banda sonora, mas nenhum que marca uma sequência cinematográfica como esta.

Heart: Magic Man

Filme: The Virgin Suicides (As Virgens Suicidas)

Sofia Copolla escolheu o perfeito tema para pavonear o andar lânguido de Josh Hartnett incarnando a personagem do safadamente sexy Trip Fontaine. “Magic Man” consegue embutir tamanha sensualidade num personagem que vagueia pelo corredor de uma escola, enquanto adolescentes do sexo feminino suspiram à sua passagem. Come on home, girl he said with a smile. You don’t have to love me yet, let’s get high awhile. But try to understand I’m a Magic Man”.

Joe Cocker: Leave your Hat On

Filme: 9 1/2 weeks (Nove Semanas e Meia)

A cena de striptease de Kim Basinger ao som desta música roubou todo o foco de atenção do filme, e o tema  na voz rouca de Joe Cocker, ficará para sempre associado ao acto de despir a roupa de forma sexy. Tanto a cena, como  a música já foram copiadas, adaptadas, reescritas para inúmeros filmes provando que já fazem parte do imaginário cinematográfico e cultural. A música fez igualmente parte da sequência de striptease  masculina em Full Monty, mas na voz de Tom Jones.

Righteous Brothers: Unchained Melody

Filme: Ghost – Espírito do Amor

Eis uma canção gravada pelos Righteous Brother nos anos 70, que volta á ribalta vinte anos depois à boleia da cena romântica deste filme, protagonizada por Patrick Swayze e Demi Moore. Fez correr rios de tinta nos tablóides por ter causado algum amargo de boca ao (na altura) marido de Demi Moore, Bruce Willis. Muito par enamorado usou desavergonhadamente esta canção para actividades nocturnas e atrevo-me a dizer que até tentaram recriar a dita cena, sem a parte da mó de oleiro ou moldando objectos fálicos debaixo de mãozinhas entrelaçadas.

Gary Jules: Mad World

Filme: Donnie Darko

A Richard Kelly saiu-lhe a sorte grande quando o seu filme estreia caiu nas boas graças da crítica e tornou-se filme de culto. Era seu desejo usar o tema original dos Tear For Fears, mas por questões de orçamento (quase inexistente) optou por uma cover de um amigo de amigo. Suplantando o original, a versão do desconhecido Gary Jules abraça o tom melancólico e onírico da sequência final: “The dreams in which i’m dying are the best I ever had”.

Chuck Berry: Johnny Be Good

Filme: Back to the Future (Regresso ao Futuro)

Antes de Chuck Berry ser repescado por Quentin Tarantino na sequência de dança em Pulp Fiction, Robert Zemeckis utilizou o popular tema de Berry: “Johnny Be Good” (sobre um rapaz que não sabe ler nem escrever, mas toca guitarra como quem toca a campainha) na cena em que Marty McFly entusiasma-se demasiado com o instrumento musical no baile do liceu.

Queen:  Bohemian Rhapsody

Filme: Wayne’s World (Quanto Mais Idiota Melhor)

Em Portugal são poucos que se lembram das personagem culto de Mike Myers e Dana Carvey. Wayne e Garth nasceram no universo televisivo do Saturday Night Live como os metaleiros idiotas que têm o seu próprio programa de tv numa estação local. Eu, que vi o filme no cinema e adoptava o jargão do filme não consigo ouvir Bohemian Rhapsody sem visualizar esta cena, onde os personagens dão liberdade ao termo: “Abanar o capacete”.

Survivor: Eyes of the Tiger

Filme: Rocky

Não há sequência de treino em  luta desportiva que não tenha esta canção de rock chunga de fundo. O primeiro acorde soa a um sucessivo soco pungente. No filme, pauteia a sequência do sucesso crescente do lutador Rocky, mas a canção extrapola esta sequência e aparece como banda sonora de tudo o que está ligado ao conceito de vontade de vencer, ou onde alguém dá um pontapé ou soco noutro. Por mais chuga que seja, fica bastante no ouvido.

Bee Gees: Staying Alive

Filme: Saturday Night Fever (Febre de Sábado à Noite)

Quem não se lembra do andar gingão de John Travolta, caminhando por entre os transeuntes na rua de Nova Iorque,  ao som da voz falsete dos Bee Gees?! Está tudo na canção: “Well, you can tell by the way I use my walk, I’m a woman’s man, no time to talk. Music loud and women warm. I’ve been kicked around since I was born”. Serve, não só para apresentar a personagem como o local onde se encontra – a mítica Nova Iorque dos anos setenta. A cena é de tal modo icónica que tanto a canção, como a sequência já foram usadas vezes sem conta. Mesmo que não tenham visto o filme, com toda a certeza, já viram um sucedâneo desta sequência.

Na linha de filmes na temática musical, com bandas sonoras feitas á medida, posso destacar três filmes cujos temas principais não se conseguem dissociar do filme.

Fire Inc.: Nowhere Fast

Filme: Streets of Fire (Estradas de Fogo)

A Banda Sonora deste filme ainda faz as delícias dos fãs e embora saibamos que não é a actriz Diane Lane que canta os temas referentes a sua personagem Ellen Aim,  mas sim Laurie Sargent com a banda Fire Inc., não conseguimos imaginar outra pessoa a cantá-los. Engraçado como este filme, uma revivalista opereta rock,  teve uma desastrada estreia nas bilheteiras, mas com o tempo, se tornou filme de culto, assim como a sua banda sonora com a produção de Ry Cooder.

Irene Cara: What a Feeling

Filme: Flashdance

Eis um curioso caso, onde a Banda Sonora suplanta o filme que é deveras insípido. Tem três das mais melhores sequências musicais, são quase clips de vídeo das canções: A cena de striptease no bar ao som de “He’s a Dream”, a sessão de suado exercício ao som de “Maniac” e a prova de dança em frente de um júri eclético ao som de “What a Feeling”, esta é a sequência que salta á memória de todos pois o filme no seu todo não vale grande coisa. Soa a enredo de filme erótico: uma dançarina exótica soldadora com aspirações a bailarina?! A sério?!

Bill Medley e Jennifer Warnes: (I’ve Had) The time of My Life

Filme: Dirty Dancing (Dança Comigo)

Ora bem, que rapariga seria eu se não incluísse aqui a sequência de dança final do filme que vi 1300 vezes na minha adolescência (ok, pronto 103 vezes)?! Antes de acabar o primeiro verso da canção já se consegue visualizar a cena que levou muito boa gente a iniciar o curso nas danças de salão e escolher a perfeita canção de abertura de baile nos casamentos.