Obrigado, Óscar

É já hoje a cerimónia que todo o cinéfilo convicto fica acordado para ver. A noite da Cerimónia dos Óscares, premeia os melhores do ano do Cinema, nas categorias interpretativas (e técnicas), mas aquele que sobe ao pódio para receber a estatueta dourada de nome Óscar é igualmente avaliado pelo discurso de aceitação. Alguns desses discursos de tal modo populares que atingem a imortalidade ao fazerem parte do léxico da cultura cinematográfica. Eis alguns exemplos que Cecil Worthington, figura secreta dentro da Academia, gostaria de ignorar.

Adrien Brody
Óscar Melhor Actor por “The Pianist”

Segundo o colunista Ross Moulton da revista Parade, proferir o discurso perfeito é como misturar um cocktail: “uma parte humor, duas partes sinceridade, uma pitada de lágrimas (facultativo) e agitar bem. Por outras palavras: breve e eficaz e ter o público na palma da mão”. Na cerimónia de 2003, Adrien Brody proferiu o discurso perfeito e protagonizou o momento mais inesquecível das precedentes cerimónias. Em total delírio de alegria beijou Halle Berry comme il faut, galante como só ele. Não só isso como teve uma plateia a aplaudi-lo de pé (incluindo os outros nomeados que haviam confessado estar a torcer por Brody).  Ainda interrompeu o corte da orquestra com uma firmeza humilde para proferir uma mensagem de paz, no ano que que os Estados Unidos avançavam para a guerra no Iraque. Nem todos se lembram desse último pormenor, mas lembram-se do beijo a Halle Berry.

Repercussão: Durante um ano inteiro, Brody esteve na berlinda como aquele que beija tudo e todos e vários sketches de comédia, no MTV Movie Awards e Saturday Night Live focaram isso mesmo. O actor voltou à cerimónia no ano seguinte para apresentar a categoria de Melhor Actriz e veio prevenido.

Cuba Gooding Jr.

Óscar Melhor Actor Secundário por Jerry Maguire

Cuba Gooding Jr é recordado como o mais entusiástico vencedor da estatueta dourada. Feliz, mas contido nos agradecimentos iniciais, é impulsionado pelo corte da orquestra como um boneco de mola, agradecendo à população em geral. Aqueles a quem não teve tempo de saudar pelo seu nome, gritou AGRADEÇO A TODOS, pulando esfuziante de alegria pelo palco. Os anos (e as suas escolhas) não foram carinhosas para a sua carreira, mas Cuba Jr. será sempre recordado pelo seu papel vencedor em Jerry Maguire e a frase: “Show me the money”.

Repercussão: No ano seguinte, Ben Affleck e Matt Damon agradeciam a Cuba Gooding Jr. por lhes ensinar a fazer discursos, isto porque estavam igualmente eufóricos a tentar agradecer meio mundo.

Jack Palance

Óscar Melhor Actor Secundário por “City Slickers”

Jack Palance era um actor da velha guarda e poucos colocaram em causa o merecimento do galardão máximo do cinema, tendo em conta a extensível carreira. Contudo, ninguém imaginava que Palance, septuagenário, subisse ao palco e surpreendesse com as suas capacidades físicas e um grande timing cómico.

Repercussão: Minutos após o seu discurso de agradecimento, os telefones da agência que representava o actor não pararam de tocar com propostas mirabolantes, as mais consistentes sendo de produtores que queriam Palance nos seus vídeos de exercício físico. Billy Crystal aproveitou a deixa e deu a Jack Palance um papel de destaque na abertura dos Óscares do ano seguinte

Roberto Benigni

Óscar Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Actor Principal por La Vita é Bella

Sendo italiano, com um mínimo conhecimento da língua inglesa, não se pode dizer que foi um discurso eloquente, mas foi exuberante em comicidade. Roberto Benigni saltou para cima da cadeira esbracejando a vitória com braços no ar e confessando ingenuamente (pelo segundo Óscar) que já tinha usado todo o inglês que sabia. A melhor frase da noite, para além do bonito agradecimento à sua família e mulher, foi: “I want to make love to everybody!”

Repercussão: No ano seguinte, ainda se falava na contagiante presença de Roberto Benigni que se manteve sossegado na cadeira durante a cerimónia, Billy Crystal, o apresentador desse ano não perdeu a oportunidade de lembrar o saltitante  italiano.

Sally Field
Óscar Melhor Actriz Secundária por “Places of the Heart”

O segundo Óscar para a actriz Sally Field foi o mais memorável para si, segundo as suas palavras, e igualmente o público que nunca esqueceu o ingenuamente honesto: “I can’t deny the fact that you like me, right now, you like me!”

Repercussão: Field foi gozada em vários meios de comunicação pelo desabafo, mas a própria parodiou a frase resumida (erradamente) a “You like me, you really like me” num anúncio e igualmente na sua introdução dos nomeados para Melhor Actor na cerimónia do ano seguinte, mostrando o desportivismo do seu sentido de humor. Anos mais tarde, a frase continua a figurar no imaginário televisivo e também Billy Crystal a usou numa montagem introdutória.

Nota: Em título de curiosidade, no vídeo em link, em 1m30s conseguem ver a então adolescente Angelina Jolie ao lado do pai Jon Voight.

Anfitriões dos Óscares

É já na madrugada de Domingo para segunda, 26 de Fevereiro, que os Óscares celebram a sua 89ª edição. Da primeira e privada cerimónia no salão do Roosevelt Hotel em 1929 até à transmissão televisiva, com uma audiência de milhões, sobressaem um naipe de anfitriões destacados para animar a noite mais importante do Cinema. Eis a sua herança.

BOB HOPE
1940 a 1943 1944, 1946/53/55/58/59 (co-anfitrião), 1960 a 1962, 1965 a 1968 e 1978

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O rei dos anfitriões que guarda o recorde supremo como anfitrião (um total de 19 vezes), Bob Hope é o genuíno sr. entretenimento, habituado a animar as hostes desde os seus tempos de locutor de rádio o que explica o seu a-vontade e favoritismo. Apresentou a cerimónia na passagem do preto e branco para a emissão a cores, estendendo-se por quatro décadas e pela sua contribuição ganhou um prémio honorário em 1966.

Imagem de Marca: Bob Hope era um performer nato, artista do vaudeville, da Broadway e da rádio, tinha um incrível sentido cómico e excedia no improviso.

JOHNNY CARSON
1979 a 1982 e 1984

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O sr. televisão, conhecido e amado apresentador do Tonight Show fez a sua transição para o universo de apresentação de prémios cinematográfico na década de 80. Numa época em que poucos ligavam à transmissão da cerimónia com a sua interminável duração e inusitados número musicais que se estendiam até à exaustão, Carson foi um oásis cómico e o terceiro anfitrião que mais vezes o fez num total de cinco vezes.

Imagem de Marca: nada lhe escapa e tem um timing inato de quem já está habituado a apresentar e conhece bem o seu público.

BILLY CRYSTAL
1990, 1991, 1992, 1993, 1997, 1998, 2000, 2004 e 2012

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Billy Crystal deu início à jornada anfitriã no início da década de 90, numa altura em que a Cerimónia assistia a um decréscimo de audiência. O seu desempenho como mestre de cerimónias dos Óscares foi de tal modo bem sucedido que marcou presença um total de nove vezes, estendo-se por década e meia directamente. A sua última presença como mestre de cerimónias não foi particularmente auspiciosa, talvez por ter sido uma escolha de emergência dado o azedume criado pelas declarações menos elegantes do director escolhido pela Academia para esse ano, Brett Ratner. Consequentemente o anfitrião Eddie Murphy declinou e Crystal foi trazido para salvar a Academia.Está a par de Bob Hope na excelência, secundado no número de vezes que apresentou. É sem dúvida o mais lembrado da minha geração e ganhou três prémios Emmy pela sua apresentação da Cerimónia dos Óscares.

Imagem de Marca: pot-de-porri musical dos cinco filmes nomeados e montagens introdutórias onde substitui personagens dos filmes nomeados. Uma personagem recorrente é a sua imitação de Sammy Jr.

WHOOPI GOLDBERG
1994, 1996, 1999 e 2002

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Poderia parecer uma escolha inusitada para a conservadora Academia, pelo seu conhecido stand up sem filtros ou medo de ser politicamente incorrecta, a própria brincou no seu discurso de abertura:«Com que então eu tenho o microfone em directo durante 3 horas. Nunca houve tantos executivos a suarem por uma mulher deste Heidi Fleiss», mas Whoopi foi mestre de cerimónias durante quatro cerimónias e fê-lo com distinção, em parte dado o seu calo como comediante stand up. Foi a primeira mulher anfitriã, convidada um total de 4 vezes.

Imagem de Marca: Humor acutilante e destemido, mas em duas cerimónias incarnou algumas das personagens nomeadas, sendo a mais espectacular a entrada à la Moulin Rouge no ano de 2002

STEVE MARTIN
2001, 2003 e 2010 (em parceria com Alec Baldwin)

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Steven Martin tem a herança do stand up na sua actuação o que o deixa a-vontade num palco em frente de muitos milhões, e tem a mais valia do improviso. Mostrou-o da maneira mais hilariante quando, ao ver Danny de Vitto a comer umas asas de frango no intervalo da cerimónia, correu para ele, em directo, com um pacotinho de molho.

Imagem de marca: Consegue ser sarcástico sem esforço e sem medo

CHRIS ROCK

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Chris Rock é o comediante que não tem medo de dizer o que não deve e de forma ruidosa, por isso foi uma surpresa a Academia, considerada conservadora, escolhê-lo. Numa altura em que as audiências baixavam e queriam abranger diferentes públicos, Rock fez bem o seu papel de anfitrião, tocando em temas delicados com audácia hilariante sem ser desrespeitoso. Voltou em 2016 no centro de uma forte polémica em que a Academia foi acusada de perpetuar racismo e ser afoita a diversidade racial, por não escolher candidatos negros, numa lista de nomeados predominantemente branca (ainda que com a comunidade sul americana bem representada). Chris Rock fez da polémica parte essencial do seu monólogo de abertura em segmentos com humor certeiro.

Imagem de Marca: Faz sempre um segmento em que entrevista afroamericanos à saída de salas de cinema em bairros predominantemente negros, perguntando se viram os filmes nomeados. O resultado é sempre uma surpresa engraçada e uma perspectiva diferente.

JON STEWART
2006 e 2008

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O apresentador do Daily Show bisou, com distinção, como anfitrião na cerimónia dos Óscares, depois de uma incessante procura para substituir os apresentadores de serviço, acima representados. A sua montagem introdutória brincou com essa particularidade. Interventivo na dose certa e óptimo no improviso, foi uma delícia vê-lo brincar com a peculiar atribuição do Óscar para Melhor Canção do filme Hustle & Flow «It’s Hard out there for a Pimp» em 2006: «Contagem dos Óscares: Three 6 Mafia -1 Óscar, Martin Scorsese – 0» (curiosamente, o realizador venceu no ano seguinte).

Imagem de Marca: Não tem medo da piada política, a sua capacidade de improviso e classe. Quando a vencedora pela Melhor Canção:«Falling Slowly» Marketa Irglova foi impedida de fazer o seu agradecimento devido à interrupção da orquestra, Jon Stewart fez questão de chamar a cantora de novo ao palco para o fazer.

ELLEN DEGENERES

2007, 2014

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Ninguém quis tanto ser anfitriã da cerimónia dos Óscares como a comediante, apresentadora Ellen Degeneres, ela própria menciona isso mesmo no seu discurso. Vindo de um passado de stand up na comédia numa altura em que homem davam cartas foi só quando se tornou uma popular no talk show com o seu nome que a Academia a convidou e voltou a convidar em 2014, uma das edições com maior audiência em grande parte por momentos espontâneos percorrendo a plateia, ora descaradamente entregado um guião a Martin Scorsese  ou fotografar  Clint Eastwood para a sua página pessoal.

Imagem de Marca: Ellen tem o hábito de descer até à plateia e surpreender os nomeados com momentos ensaiados para improvisar que acabam por ser tornar espontâneos e alguns de dimensão tão grande que são responsáveis por “avariar a internet”- a selfie que passou a groupie

Outrora, a função de mestre de cerimónias era um cargo quase vitalício, revelando-se impressionantes recordes de longevidade. Nos dias de hoje, com a cerimónia a perder a audiência dos mais jovens, a escolha de anfitrião revela-se mais complicada a julgar pelas ousadas escolhas. Algumas vencedoras – Hugh Jackman a que mais impressionou  , outras nem tanto – David Letterman e James Franco como co-apresentador, outras arriscadas – Seth MacFarlane, mas sempre despertando a curiosidade dos cinéfilos. Este ano, o desafio pesa nos ombros de Jimmy Kimmel . Espera-se um qualquer segmento onde Matt Damon apareça sem ser convidado já que esse é um segmento recorrente com Kimmel, resta saber se deixará a sua marca. Se resistirem ao sono durante a transmissão madrugada fora, ficam a saber.

 

Romance with a view

A imagem é do filme «Singles» de Cameron Crowe, nesta cena, Steve Scott Campbel) divaga sobre o que são as relações e o amor, salientando que gostava que as coisas fossem tão simples como o postal que mostra a famosa foto: «Le Baiser de l’Hôtel de ville» de Robert Doisneau.
Sendo entusiástica de fotografia desde cedo, fiquei fascinada por esta foto e qualquer outra que capte o acto do beijo ou abraço. Reuni umas quantas ao longo dos anos. Gosto bastante dos fotógrafos que captam instantâneos da rotina da rua e invejo lhes o a-vontade com que o fazem. Se os meus olhos fossem lentes capazes de fotografar teria um bonito espólio fotográfico resultado de observações fugazes.

Pratico o que chamo de photo stalking, captando ao longe, aquilo que Robert Doisneau, captou de perto. Uma amiga fotógrafa, Joana Linda, chama-lhe «fotografar um filme francês» e acho que esta expressão assenta melhor que a minha.

Criei a galeria «Romance With a View» para quando consigo captar algum momento assim à socapa. E porquê, «com vista». Porque acontece coincidentalmente, quando estou captar aquelas fotos em viagens ou passeio, aquelas que um amigo meu chama de postalídeas.

Neste dia de São Valentim, apreciem a vista do namoramento, deixando o conselho que o ideal é mesmo vivê-lo.

 

Anti Valentim

Para aqueles que estão fartos do clima de romantismo exacerbado que existe em cada esquina, loja, meio de comunicação e rede social no dia de São Valentim, eis um mixtape dedicado a vocês, ranzinzas. Se as canções melosas que passam na rádio e o marketing a fazer render o peixe do Amor, vos irritam profundamente, talvez se revejam nestes 5 momentos anti São Valentim. E quem era mesmo esse São Valentim? Barney, a personagem de «How I Met Your Mother» explica.

St Elmo’s Fire

Frase lapidar: You know what love is? Love is an illusion created by lawyer types like yourself to perpetuate another illusion called marriage to create the reality of divorce and then the illusionary need for divorce lawyers.



Some Kind of Wonderful

Frase lapidar: Did you know a woman can be anything she wants to be?

Almost Famous

Frase lapidar: Sweet? Where do you get off? Where do you get sweet? I am dark and mysterious, and *pissed off*! And I could be very dangerous to all of you! You should know that about me… I am the enemy!

Valentine’s Day

Frase lapidar: He’s married


Adão e Eva

Frase lapidar: (o decoro não me permite escrever…)

Radio Gaga

Não se assustem, não foi inaugurada nenhuma estação de rádio dedicada a passar o reportório da cantora Lady Gaga, que curiosamente, escolheu o seu nome de baptismo pop na canção dos Queen. No dia que se comemora a Rádio, sendo eu fã incondicional de rádio logo pela manhã, o Mixtape escolhe uma selecção especial para os fãs das ondas de rádio AM/FM.

Confesso, sou daquelas pessoas que acorda bem-disposta de manhã. A razão desse estado de espírito matinal está no acto de ligar o rádio no meu programa favorito. Não é só a música que passa pelas ondas de rádio que me faz bem-disposta, os animadores da rádio, representam um papel crucial. Todas as manhã, o rotineiro acto de tomar o pequeno-almoço, preparar para sair, correr para os transportes, fica mais animado na companhia dos nossos animadores de eleição.

Não é só pela manhã que a rádio me acompanha. Os programa de autor das estações de rádio imperavam na noite em que o mais solitário dos indivíduos se sente acompanhado. O programa da Antena 3 “Drive In” de Álvaro Costa foi o meu salva vidas durante muitas noites dos anos universitários. No tempo que passei na Escócia durante o programa Erasmus, ouvia rádio logo pela manhã, por mais miserável que me sentisse dado as saudades do país natal, aquelas manhãs radiofónicas ajudavam a levantar-me pela manhã com um sorriso nos lábios – nem que fosse pela risota de tentar desvendar o indecifrável dialecto de glasgow.

Ontem e hoje, a rádio continua a representar um papel importante no dia-a-dia e merece o seu dia oficial.

  1. Queen: Radio Gaga
  2. R.E.M: Radio Song
  3. Bruce Springsteen: Radio Nowhere
  4. The Buggles: Video Killed the Radio Star
  5. The Clash: Radio Clash
  6. X-Wife: On the Radio
  7. Queens of th Stone Age: God is on the Radio