5 Canções que deixam o coração apertado

Aproveitando o embalo da edição anterior, o Mixtape faz um pequeno desvio para canções cuja composição musical e letra me deixam com um nó na garganta e o coração apertado. Não só pelo conteúdo em si, como pela maneira como esta é interpretada, mas principalmente pelo historial da canção.

Sinéad O’Connor
Red Football

I’m not no animal in the zoo
I’m not no whipping boy for you
You may not treat me like you do
I’m not no animal in the zoo
My skin is not a football for you
My head is not a football for you
My body’s not a football for you
My womb is not a football for you
My heart is not a football for you

A polémica cantora irlandesa não me era desconhecida, mas não estava familiarizada com a sua discografia. Vi um especial sobre a Sinéad O’ Connor no VH1 em 2002 e ouvi esta canção que literalmente me deixou de rastos. Red Football faz parte do álbum “Universal Mother”, lançado em 1994 e todo ele foi composto como  terapia por algo terrível que lhe foi infligido na infância. A canção transmite uma angustia de quem sofreu severos abusos físicos, porém o tom final transmuta-se –  é reconciliador e desafiante, como um adulto que fala ao seu eu em criança.  “Este animal, salta para te devorar, para te apanhar”. A comparação precisa entre ela própria e um crocodilo que se lembra de visitar no jardim zoológico, um animal confinado num espaço exíguo a ser atormentado pelas pessoas que o olham pela montra, deixa-me em lágrimas.

Damien Rice
Accidental Babies

Do you brush your teeth before you kiss?
Do you miss my smell?
But do you really feel alive without me?
If so, be free
If not, leave him for me
Before one of us has accidental babies
For we are in love

Damien Rice canta a desilusão de um amor como nenhum outro e esta não é a única canção onde o faz. As suas composições são  pequenos cenários em que desconstrói pedaços de intimidade com uma honestidade impressionante. A forma como canta momentos de intimidade da mulher que ama como o ritual de lavar os dentes antes de beijar e pormenores de preliminares do amor, desarma o ouvinte. Fazê-lo como um lamento solitário onde roga para que ela volte se não se sente viva com o homem pelo qual foi trocado e ouvi-lo acompanhado pelo belíssimo violoncelo, dá-me cabo do coração. 

Jeff Buckley
So Real

Love, let me sleep tonight
On your couch..
And remember the smell
And the fabric
Of your simple city dress..
That was so real

É o primeiro verso da canção e logo ali, percebemos a dor de um homem com o coração despedaçado pela saudade de um amor que ainda consegue experienciar sensorialmente. Ainda sente o cheiro do tecido do vestido dela e todos esses vestígios dela ainda parecem reais. A voz e os acordes etéreos da guitarra de Buckley fazem o resto. Embalam o sentimento de empatia pelo desespero de um homem destroçado.

Alanis Morissette
Forgive Me Love 

Alanis Morissete ficou conhecida por cantar a raiva de uma separação com bastante azedume, a revista Rolling Stone baptizou-a de “Angry White Female” e a crueza hostil com que o fazia fez tremer todos os seus ex-namorados. Contudo, a canção que me faz um nó na garganta é uma faixa escondida do multi platinado “Jagged Little Pill”, onde apenas canta em acapella. Nos primeiros versos descreve a visita surpresa ao apartamento do namorado quando ele não está e a forma afectuosa com que explora os objectos da sua intimidade até encontrar um bilhete de outra mulher a combinar um encontro amoroso. Depois da audição dos 12 temas do álbum, esperamos que a qualquer altura, ela grite em fúria e lhe destrua o apartamento, mas Alanis apenas chora e qualquer mulher sente empatia por ela e eu não sou excepção.

Jewel
Painters

She went running through the orchard screaming,
‘No God, don’t take him from me!,’
‘Damn you man, don’t leave me
with nothing left behind but these cold paintings,
these cold portraits to remind me!
He said, ‘Love I leave, but only a little, try to understand
I put my soul in this life we created with these four hands
Love, I leave, but only a little this world holds me still
My body may die now, but these paintings are real.’

Não sei explicar porque esta canção me faz chorar, talvez porque descreve um grande amor recordado por uma velhinha de 80 anos que construiu uma vida com um homem que amou muito, mas que morreu precocemente. Jewel canta o tema como conta uma história e na parte em o céu negro como petróleo foi um prenúncio de tragédia e a protagonista da canção pressentiu que algo estava errado, já eu estou desconsolada. Quando Jewel a coloca em discurso directo, consigo imaginar a cena e ainda mais desconsolada fico. Porém o verso final consola-me: “O meu corpo morre, mas estas pinturas são reais”. É bonito.

Smooth Blast from the Past

Quando o tempo está “farrusco” (o termo meteorológico menos correcto para cinzento, nublado),  gosto de me cingir aos clássicos do passado. Um clássico, tal como o termo indica, nunca passa de moda, não interessa quantas décadas de idade tem. Smooth é uma palavra anglo-saxónica que significa calmo, sedoso, porém no contexto musical, caracteriza canções calmas, de carácter romântico feitas com muita classe e estilo. A década de 40 a 50, foi era dourada do vinil e é a que melhor representa este regresso ao passado, embalado pelas vozes intemporais de Nina Simone, Ella Fitzgerald, James Brown, Otis Redding. Também as vozes europeias de Édith Piaf e a nossa Amália Rodrigues são merecedoras desta lista. Mesmo interpretadas por artistas modernos, o resultado continua esplendoroso, pois um clássico é como um vestido preto, fica sempre bem.

Playlist Smooth Blast from the Past

1.«That’s How Strong My Love Is» – Otis Redding
2.«Cry To Me» – Solomon Burke
3.«You and Me» – Penny & The Quarters
4.«Smoke Gets in your Eyes» – The Platters
5.«I Put a Spell on You» – Nina Simone
6. «Try A Little Tenderness Otis Redding
7. «Take Another Little Piece of my Heart» – Janis Joplin
8.«This is a Man’s World» – James Brown
9.«Makin’ Whoopee» Michelle Pfeiffer (The Fabulous Baker Boys BSO)
10.«Feelin Good» – Nina Simone
11. «Why Don’t You Do Right» Jessica Rabbit (Who Framed Roger Rabbit? BSO)
12.«Wild Is The Wind»- Nina Simone
13.«The Other Woman»- Jeff Buckley
14.«Unchained Melody»- Righteous Brothers
15.«You’ve Lost That Loving Feelin»- Righteous Brothers
16.«The Man I Love»- Ella Fitzgerald
17.«Whatever Lola Wants» – Ella Fitzgerald
18.«Someone To Watch Over Me»- Ella Fitzgerald
19.«Non, Je Ne Regrette Rien»- Édith Piaf
20.«La Vie en Rose» – Édith Piaf
21. «Barco Negro» – Amália Rodrigues
22.«Povo que Lavas no Rio» – Amália Rodrigues
23.«Canção do Mar»- Dulce Pontes